O MercadoLivre é sócio do
eBay. Mas vai virar inimigo
O argentino Marcos Galperin, fundador do site
MercadoLivre, diz estar preparado para enfrentar o eBay, gigante americano de
comércio eletrônico que acaba de desembarcar no Brasil — e que é seu sócio
Germano
Lüders/EXAME.com
São Paulo
- O Brasil pode estar prestes a se transformar num grande ringue do comércio eletrônico.
Se o americano eBay,
segunda maior empresa de comércio online do mundo, for adiante com os planos de
brigar pelo mercado latino-americano, baterá de frente com o argentino MercadoLivre, site
com a maior audiência da região, que registrou lucro de 101 milhões de dólares
em 2012.
Em jogo
está o segmento brasileiro de marketplace — um shopping center virtual em que
pessoas e empresas podem colocar seus produtos à venda —, que movimenta 6,5
bilhões de reais por ano. O curioso nesse caso é que as duas empresas tinham
uma íntima parceria até recentemente.
Em 2001,
o eBay comprou 18,5% do MercadoLivre e, de lá para cá, tratou a companhia
argentina como um de seus braços. Por isso houve surpresa quando, em setembro,
o eBay decidiu partir para um voo solo. Lançou um aplicativo para a venda de
roupas pelo celular
no Brasil e anunciou planos de entrar com força no segmento de marketplace num
prazo de 12 meses.
Em entrevista a EXAME,
o argentino Marcos Galperin, fundador do MercadoLivre, fala a respeito de seus
planos para enfrentar a concorrência da gigante americana, que continua sendo
sua sócia, e sobre as mudanças esperadas para o comércio eletrônico nos
próximos anos.
EXAME - O
mercado estranhou a entrada do eBay no Brasil. Eles tentaram comprar o controle
do MercadoLivre e não conseguiram?
Marcos
Galperin - Não, o
eBay não tentou comprar o MercadoLivre. Também não somos parceiros. A
empresa apenas permanece como nossa acionista. É importante ressaltar que não
vamos concentrar todas as energias nela. A história mostra que ficar obcecado
por um só concorrente no setor de tecnologia é um erro.
É só
olhar para o mercado de celulares. A Nokia e a Motorola ficaram tão
preocupadas em brigar entre si na última década que não viram a chegada do iPhone. Contamos com uma
longa história no mercado brasileiro, o maior da região, e temos confiança em
nossas forças.
EXAME -
Quais são as principais fontes de receita do MercadoLivre hoje?
Marcos
Galperin - Nosso
carro-chefe ainda é o marketplace — uma espécie de shopping center virtual.
Mais de 50% de nosso lucro, que foi de 101 milhões de dólares em 2012, veio
desse produto. A segunda fonte mais importante, que representa 30% de nossa
receita, é o Mercado Pago, que tem o PayPal como concorrente.
O restante vem de serviços de logística que oferecemos com os Correios e da
venda de publicidade.
EXAME
- A América Latina não vive um bom momento econômico. Como isso afeta o
setor de comércio eletrônico?
Marcos
Galperin - No Brasil,
as vendas do varejo online respondem por apenas 3% do comércio como um todo. No
México, 1%. Nos Estados Unidos e na Coreia do Sul, essa participação é superior
a 10%. O comércio
eletrônico está avançando sobre o varejo físico. Quando começamos, 3%
da população tinha acesso à internet na América
Latina. Hoje, a internet chega a 60% das pessoas — e continuará
crescendo.
EXAME - Quais
são as principais tendências no comércio eletrônico?
Marcos
Galperin - O próximo
passo de nosso setor será a migração das compras para o celular. No
MercadoLivre, 10% das compras já são feitas por smartphones, e nossa
expectativa é que, em menos de cinco anos, os celulares respondam por 50% das
transações. Essa migração do PC para o smartphone já está ocorrendo em todo o
mercado.
EXAME -
Os críticos do pagamento por celular dizem que ele não deslanchará até que as
lojas lancem aplicativos mais fáceis de usar. O senhor concorda?
Marcos
Galperin - A
tecnologia vai evoluir nos próximos anos melhorando a experiência de comprar
online — e não só nos celulares. Estamos entrando na era em que os objetos
serão conectados. Os carros terão computadores de bordo capazes de fazer uma
compra por meio de um comando de voz. Veremos lojas físicas funcionar
ininterruptamente por meio de “tablets gigantes”, colocados na vitrine. Esses
são só dois exemplos de uma revolução tecnológica que ainda vive sua infância.
Matéria extraída dos links :